A filhó assassina
Há uns anos fui com os meus pais passar o Natal a casa de uns amigos do norte, gente querida e generosa e de mesa farta. Chegámos, cumprimentámo-nos e fomos conduzidos logo para a mesa. De entrada uma canjinha recheada de carne de todos os tipos, assim para aconchegar. Aquilo não era consomé, era para consumir qualquer um. Em seguida chegou o bacalhau, uma travessa gigante de postas e mais postas, batatas e um tapume enorme de couves. Ainda não tinha alugado um segundo estômago e já lá vinha um segundo prato, perna de peru do campo, não fosse a fome apertar. Não era opcional, era de consumo obrigatório. As gentes do norte são queridas mas há ali algo de viking na sua ânsia de nos fazerem comer três vitelas seguidas… com batatas. Em seguida veio a sobremesa, não uma nem duas, várias sobremesas de todo o tipo. Já com o segundo estômago cheio, bebi com sofreguidão o digestivo e o café na esperança de encontrar paz gástrica. E eis que surge ameaçador um prato de bojudas filhós, uns aliens gigantes e açucarados que vinham ali com intenção de me aniquilar certamente. Protestei, esbracejei, esperneei mas não havia nada a fazer, em três tempos a amiga do norte conseguira enfiar-me um desses paquidermes açucarados pela goela abaixo. Ia morrendo!! Regressámos a casa e passámos a noite a beber agua das pedras e a tomar sais de fruta. Adormeci exausto e ainda hoje por altura do Natal tenho pesadelos, acordo a meio da noite perseguido por uma filhó gigante.
Nunca mais passámos o Natal com amigos do Norte.
Carlos Tomé Sousa