A rúcula

Estamos no ano 2000 e a rúcula está em tudo o que é prato sofisticado da capital. Aterrou em força nas mesas de Portugal no início do milénio e virou moda. Ainda hoje, pessoa que se quer moderna espalha graciosamente o preciso vegetal pelo prato, dá-lhe um ar sofisticado, e salpica-o religiosamente com vinagre balsâmico. Para colocar o pessoal da terra a par da modernidade não hesitou em levar um pacote. 2,90 euros por uma embalagem de 100 gramas. A salada magnifique ali estava prestes a servir quando alguém entra casa adentro, uma vizinha já de idade avançada e de olhar atento. 

– Bom dia. O que estão comendo? – pergunta para logo responder.

– Tenho disso no meu quintal com fartura, dou aos coelhos.

E saiu logo de seguida, deitando por terra esse ensaio de modernidade. Raios partam a velha!

Até hoje não lhe encontraram o corpo.

Carlos Tomé Sousa

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