
Em 2022 Luís Buchinho voltou a mostrar duas grandes coleções na ModaLisboa, recebeu o prémio de designer do ano atribuído pela GQ Portugal e surpreendeu-nos com os seus dotes de ilustração na novela gráfica “SAL”. Um ano em cheio.
Luís Buchinho, nome incontornável da moda portuguesa e com um estilo inconfundível, teve aquilo que podemos designar como um ano em cheio. No início do ano mostrou a sua coleção para a estação fria em ambiente pós pandémico, dois anos depois de mostrar nesta mesma ModaLisboa uma coleção fortíssima cujos elementos em destaque foram o couro e os tons verdes numa coleção memorável. Para esta estação em curso apresentou em Fevereiro peças onde predominaram os tons frios e os drapeados que caracterizam o seu trabalho, uma reinterpretação de elementos muito ao estilo dos anos 80 que o designer não esconde, e ainda bem, como podemos ver aliás também na seleção musical habitual do designer. Quem diz que os anos oitenta foram a década do mau gosto não percebe da missa a metade. Esta é década em que grande parte da moda de autor despontou na Europa e em Portugal e manter os signos identitários de um nome ou de uma marca é um claro sinal de coerência e inteligência que coexiste perfeitamente com modernidade e inovação e Luís Buchinho é prova disso – uma marca que nunca deixou de surpreender sem perder a sua identidade.

Em Outubro, ao segundo dia da Moda Lisboa, Luís Buchinho inspirou-se na famosa obra de Aldous Huxley, “Admirável Mundo Novo” e apresentou uma coleção pontuada por brilho metalizado, peças com cortes laser e silhuetas esguias no seu estilo inconfundível onde elegância e futurismo casam na perfeição. À saída do desfile falámos com o designer sobre a cor, sobretudo os laranjas e brancos que deram um novo destaque às peças. “Sim, de facto essas cores quentes permitem peças que se destacam, sobretudo em passerelle, mas também gosto muito das cores frias, mesmo que sejam menos apelativas”, comentava referindo-se a essa coleção onde as cores vivas assumiam, de facto, lugar de destaque, num desfile onde voltou a vestir a mulher de uma forma extremamente elegante e sensual.

Cerca de um mês depois, desta sua apresentação Luís Buchinho receberia o prémio de melhor designer de moda do ano atribuído pela GQ Portugal na sua edição de “Men Of The Year” que teve lugar no dia 19 de Novembro no Teatro Tivoli em Lisboa.
E, dez dias depois deste prémio Luís Buchinho regressava a Lisboa para o lançamento da novela gráfica “SAL”, escrita por João Andrade e com ilustrações suas, a que se seguiria uma apresentação no Porto, outra na sua cidade natal, Setúbal e uma série de apresentações na TV e na rádio e ainda na Madeira, onde decorre a ação do livro. Desenhar é uma paixão deste designer de moda, e quem frequente as suas páginas nas redes sociais já teve a oportunidade de ver os seus desenhos e ilustrações que publica com alguma regularidade. Mas desenhar para além do universo da moda era um desafio e Luís pôs mãos à obra no sentido de melhorar a sua técnica. “O covid foi benéfico por um lado porque me deu mais tempo e comecei a comprar e consultar tutoriais, comprar livros online e, de repente, comecei a ficar um ávido colecionador de BD alternativa”, afirmou no lançamento do livro em Lisboa. “E comecei a descobrir um mundo alternativo de histórias muito particulares e com um traço muito especial. Fiz esta caminhada e quando começámos o confinamento inscrevi-me em aulas de desenho para ter mais noções de perspetiva que não tinha. “Mas onde é que há aqui falta de perspetiva?”, afirmou rindo Sofia Alberto, convidada para apresentar o livro, acrescentando que se trata de uma novela gráfica extremamente cinematográfica.”

É caso para dizer que valeu a pena todos os esforços que envidou no sentido de melhorar a técnica, uma vez que “esta mistura digital com técnica manual, com alguma experimentação” resulta num livro com personagens muito fortes ao nível da expressão que complementam o texto, texto que narra história de SAL, uma rapariga vítima de maus tratos que é acolhida por uma instituição, neste caso a Fundação Cecília Zino para a qual reverte uma percentagem das vendas e que lançou o desafio para a feitura deste livro. Apesar de algumas imagens fortes, há coisas que ficam por contar e que o designer optou por deixar que ficassem apenas sugeridas. “Quero este livro possa ser lido também por um pré adolescente sem direcionar a sua leitura para um caminho muito específico. Quero que os jovens possam ler isto e dizer, eu já passei por isto e não há nada de errado comigo. Pode ser uma mensagem de força”, afirmou no lançamento.

SAL está à venda em todas as livrarias do país, um livro que alerta para a situação de crianças em risco e que marca a estreia deste designer de moda no mundo da banda desenhada. Mas ao vestir a pele de ilustrador Luís Buchinho não abandona totalmente a sua pele de designer de moda. Aliás ela está bem presente na forma como muitas personagens são aqui representadas, estilizadas, modernas, em certas imagens como que se estivessem a vestir peças suas, como que uma ilustração de moda ao serviço do bem comum.
Carlos Tomé Sousa
Like this:
Like Loading...